quarta-feira, 10 de outubro de 2012

1. Hemisfério não-sei-qual

A fogueira aquecia os corações, enquanto o relógio marcava dez horas, todos continuavam acesos lembrando daquele dia no qual descobriram que seus destinos haviam mudado completamente, menos Elisa que estava em um canto da sala, com um pouco de medo do que poderia acontecer. Só depois de muito tempo (e quando digo que é muito tempo, estou sendo sincera) que ela percebeu que não acreditava em destino, ou melhor, não acreditava em destinos que não pudessem ser mudados. Voltando a sala, Pedra, que estava sentado no centro, levantou-se em mais uma de suas exibições e disse em tom alto:
- Você foi escolhido para viajar para outros mundos e blá blá blá, primeiro passará por um treinamento e saiba que a realidade é bem mais infinita do que você imagina. E aqui estamos nós, ele disse já com sua voz normal.
 - Você deveria ser ator, Pedro.
 - Me chame de Pedra, já que tudo é uma farsa mesmo quem sabe se meu nome nem é esse. E sim, adoraria ser ator, mas me mandaram para este lugar.
Fez um olhar intimador para a menina bem ao lado dele, seu nome era Sofia e ela retribuiu o olhar, ele sorriu logo depois e todos começaram a falar novamente, sobre de onde vieram e o que achavam que iria acontecer. Enquanto isso Elisa olhava para a única janela do estabelecimento, dava uma ampla visão de estrelas que ela nunca havia notado, o céu parecia ser outro, não estava no hemisfério Sul, não tinha a menor ideia de onde estava.
O céu de repente perdeu as estrelas, a tempestade estava começando, as janelas ficaram embaçadas e ela não tinha mais para onde olhar.
- Garota da janela, qual é o seu nome?, disse Pedra ou Pedro.
- Elisa.
- Você está quieta demais.
- Você não percebe o quanto estamos feitos bobos nessa sala, até vir alguém informar que droga que  a gente está fazendo aqui.
Os sete olharam para ela, como se tentassem dizer que era aquilo que eles estavam tentando esquecer naquele momento.
- Quer chocolates? disse Vitor.
Ela pegou um e continuou no seu canto. Percebeu que bem ao longe havia um morro, que não parecia ser tão alto, desistiu de tentar ver com tantas gotas batendo na janela...
- As coisas eram boas na sua casa? - Vitor, outra vez, tenou puxar assunto com Elisa.
- Na verdade eu odiava tudo aquilo, mas aquela frase "era feliz e não sabia" sempre vêm a calhar nesses casos.
- Mas você não está animada com isso aqui? Imagina que maluquice poder conhecer o desconhecido.
- Talvez para você. Acho que tudo não passa de uma brincadeira idiota.
- Aposto que não.
- O problema...
Vitor a olhou com olhos enormes, ela não sabia se poderia deixar-se cair naquele breu. Ele se apreçou e disse:
- Vai sentir saudades.
Elisa concordou, mas era algo muito maior que aquilo, estava deixando todos aqueles que amava para trás, sem dizer um adeus e tinha medo que a amizade acabasse, como ela sabia que a acabava com o tempo, tinha medo que a única relação sólida que tinha fosse esquecida. Não queria voltar para casa e descobrir que tudo havia mudado.
A mudança também lhe causava arrepios.
- Acho que todos estão com medo, mas todos têm medo de admitir isso.
- Poderiam colocar um manual explicando tudo, não acha?
- Seria bem menos aterrorizante.
A sala continuava um barulho, até que aos poucos cada um foi pegando no sono e começaram os sonhos para longe dali. O inconsciente tornou-se uma maravilha para alguns, outros tiveram os piores pesadelos da vida, mas dormiram a noite inteira, como se não tivessem dormido por muito tempo e quando acordaram levaram um susto: aquilo não fora um sonho, estavam longes de casa.

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